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Carta do Pai da Pólis aos primeiros esparciatas do Tempo de Mnemosine

17 de março do ano de 2025 do Tempo Comum
17º dia do Elaphebolion do 4º ano da 700a Olimpíada

Esparciatas, meus homoioi Anaxandros, Pétros e Frederíkos,

Tê-los aqui marca, de fato, o início de um novo tempo. Juntos, reabriremos a Gerúsia, cujas portas permaneceram fechadas por quase uma década. Revitalizaremos o Conselho de Éforos, inativo desde 2010. E, justamente por isso, julguei essencial dirigir-me a vocês, na Ágora, para compartilhar minha visão sobre o micronacionalismo, sobre o lugar de Esparta dentro dele e sobre o que acredito que podemos construir e transformar no micromundo.

Eu mesmo retornei ao hobby há pouco tempo e, nesse breve período, vivi experiências distintas. Em algumas, encontrei o micronacionalismo em sua essência mais pura: a produção genuína, a geração de riqueza micronacional, tal como concebida por Aron, Cava e pela inteligência portoclarense na década de 1990. Vi notáveis entre notáveis, reunidos ao longo dos anos por soberano extraordinário, colocando no mundo um fazer micronacional vivo, pulsante, coletivo, produtivo.

Sei que a lusofonia hoje também abriga outras experiências, de outra natureza, nas quais micronacionalistas cultivam uma convivência costurada por questões macronacionais, que se sobrepõem ao fazer micronacional. Nestes círculos, o micronacionalismo disputa – e, comumente, perde – com debates de temas externos, e a produção de riqueza intelectual e institucional resta relegada a um segundo plano.

Sei que as micronações são cíclicas, oscilam em sua atividade e que, em questão de dias, a dinâmica de qualquer projeto pode mudar completamente. Por isso, jamais defendi julgar projetos micronacionais apenas por sua atividade momentânea. Também é relativo o número de cidadãos. Ao longo dos anos, testemunhei micronações compostas por poucos cidadãos ativos contribuírem muito mais para o hobby do que grupos numerosos incapazes de compreender e produzir minimamente. Vi one-man-nations infinitamente mais sofisticadas do que gigantes amorfos. E sempre recusei os discursos auto afirmativos que, se observados de perto, revelam apenas as fragilidades que todos compartilhamos.

E onde está Esparta hoje?

Vejo notáveis. Vocês, esparciatas da Era de Mnemosine, são notáveis em potencial no exercício da cidadania que possuem hoje. Conheço os três e afirmo isso sem hesitação. Sendo assim, é fundamental, neste primeiro momento, que alinhemos nossas expectativas sobre o projeto que começamos a construir juntos, a partir de agora.

Esparta é o que é: um projeto antigo, que conheceu períodos de atividade robustos na década de 2000 e 2010, mas que mergulhou na inatividade. Hoje, encontra-se renascendo, equivalente a uma micronação nascente, ainda que carregue consigo 17 anos de história e produção. Isso não é um demérito, não é uma vergonha e não é algo a ser negado, escondido ou falseado: o espaço que queremos afirmar é aquele que merecemos, sem delírios de grandeza por um lado, ou depreciação pelo outro.

Ao mesmo tempo, Esparta é um projeto de raízes firmes. Nossa concepção de micronacionalismo é herdeira direta da tradição da Fundação Pasárgada de Estudos Políticos, do Instituto Pablo Castañeda de Marajó e da Fundação Teobaldo Sales de Reunião. É a partir dos conceitos cunhados por estas escolas que identificamos nosso fazer micronacional: com qualidade, com atenção, com dedicação. Somos únicos na lusofonia e jamais hesitamos em reforçar essa singularidade. Paradigmas existem para serem quebrados, e Aron já dizia, em 2006, que apenas notáveis quebram paradigmas. Esse é o nosso papel.

Por isso, convido-os a mergulharem no helenismo espartano. Com a mesma profundidade com que Pétros mergulhou, em 2007, no feudalismo mauritano. Com a mesma naturalidade com que Frederíkos se entrega aos mistérios da Floresta Negra de Wurttemberg. Com a mesma paixão com que Anaxandros se dedica às atividades esportivas que escolheu para a vida. E, uma vez imersos na nossa característica mais dissonante dentro da lusofonia, assumam aquilo que fez nascer Esparta: a certeza de que o micronacionalismo pode ser ainda mais criativo, enriquecedor, ousado e historicamente representativo, desde que nos libertemos da necessidade de agradar aqueles que se arrogam a definir o que é o “verdadeiro micronacionalismo”.

Esparta nasceu para ser um elemento dissonante em um (micro e macro) mundo homogeneizante. Para desafiar a norma. Para contestar a repetição do “mais do mesmo”. Para insurgir-se contra um micromundo engessado por fórmulas ultrapassadas. Surgiu em meio ao domínio de uma microigreja reacionária, que sufocava a diversidade e a inovação, e nasceu para defender o plural, o heterogêneo, o diferente. E, embora os tempos sejam outros, em muitos aspectos e espaços, nada mais parecido com a década de 2000 do que a de 2020.

Sem qualquer dolo às demais experiências micronacionais que vocês sustentam tão bem – sei que dois de vocês são duplos cidadãos –, vivam aqui a experiência de inspirar-se em um tempo anterior ao feudalismo e ao medievalismo que permeiam todas as micronações lusófonas. Façamo-lo com atenção à forma, à tradição e ao compromisso com uma produção que tenha valor real, riqueza de fato, dentro e fora de Esparta.

Esparta, mais uma vez, tem povo. Nós, os autores da Era de Mnemosine.

Que seja épico.

Um cordial abraço de seu igual em Esparta,

Esparciata